Prefeitura constrói jardins de chuva sob Minhocão de SP

Após vagas para carros, gestão de Ricardo Nunes (MDB) testa jardins absorvedores de chuva nas vias cobertas pelo elevado paulistano

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Fonte: Prefeitura de SP/ Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 10 de junho de 2025

Obras de jardins de chuva sob o Minhocão

Obras de jardins de chuva sob o Minhocão

créditos: Reprodução/ Prefeitura de SP

Depois das polêmicas vagas de estacionamento, a Prefeitura de São Paulo iniciou nesta semana a construção de jardins de chuva embaixo do elevado João Goulart, no Centro da capital paulista.


As duas obras surgiram sem aviso: em maio, os operários e máquinas sob comando do vice-prefeito, coronel Mello Araújo (PL), ocuparam a calçada e ciclovia existentes para criar as novas (e inúteis) vagas de estacionamento. Era um projeto experimental, justificou Mello ante uma série de questionamentos de vereadores, imprensa, ciclistas e moradores da região atingida. A ciclovia foi reposicionada e as vagas ocupadas por alguns carros de uma oficina próxima.


Agora em junho foi a vez do prefeito efetivo, Ricardo Nunes (MDB), apresentar sua "versão light" para a ocupação desses espaços sob o Minhocão.


Conforme a nota divulgada pela Prefeitura, trata-se da "segunda fase de requalificação da Avenida Amaral Gurgel sob o Minhocão (...) Essa etapa, nos quatro quarteirões entre as ruas Cunha Horta e Jaguaribe, vai priorizar soluções baseadas na natureza para melhorar a permeabilidade do solo e também o aspecto visual da área. No trecho entre as ruas Santa Isabel e Cunha Horta serão instalados jardins de chuva e floreiras, além dos pilares que receberão trepadeiras..."

 

De acordo com o anúncio da Prefeitura, a ciclofaixa da via será mantida e haverá também espaço para pontos de aluguel de bicicletas. O plano, que tem um prazo de execução de 30 dias, prevê ainda um bolsão para taxistas.

 

A nota não explica por que construir jardins de chuva - áreas permeáveis, com tratamento paisagístico - sob um viaduto, onde não chove e nem há radiação solar para o desenvolvimento das plantas. O objetivo mais evidente parece ser a criação de barreiras que impeçam a ocupação dos baixos do viaduto pelas barracas, carriolas, colchões e cobertores de pessoas em situação de rua.


Esquema dos jardins de chuva: aumentar a permeabilidade do solo e evitar inundações Fonte: Pref. de São Paulo


Parque ou demolição
Anos atrás, entre as gestões de Fernando Haddad (PT), Gilberto Kassab (PSD) e Bruno Covas (PSDB), a discussão envolvia a possibilidade de demolir o sombrio viaduto ou de transformá-lo em um parque elevado, tal como a Promenade Plantée, em Paris, ou o High Line, em Nova York. Nem uma coisa, nem outra: o Minhocão é um quase parque nos finais de semana e segue sendo uma via expressa nos dias úteis. No alto é ensolarado, aberto para a cidade; embaixo é sombrio, melancólico, pesado.

 

Em tempo, uma historinha...
O plano do Minhocão foi idealizado por Luiz Carlos Gomes Cardim Sangirardi, arquiteto do Departamento de Urbanismo da Prefeitura de São Paulo em 1968, ainda na gestão do prefeito José Vicente de Faria Lima.

 

Algumas imagens sugerem que a ideia nasceu a partir de sugestões do engenheiro norte-americano Robert Moses, que havia feito transformações radicais e polêmicas no tecido urbano de Nova York e que mantinha estreitas relações com autoridades e urbanistas brasileiros, Sangirardi entre eles.


No entanto, o prefeito brigadeiro deixou o projeto de lado e preferiu apostar suas fichas em uma obra mais avançada, a linha norte-sul do metrô. A ideia do elevado somente foi retomada, "a toque de caixa", em 1970, na gestão do prefeito seguinte, Paulo Salim Maluf, e executada em apenas 14 meses.


Anos atrás, em 2015, quando gravávamos um depoimento com o engenheiro Augusto Carlos de Vasconcellos, o genial calculista nos confidenciou sua versão sobre o desenho do elevado: Paulo Maluf havia encomendado os projetos estruturais da obra a várias empresas de engenharia, entre elas a do próprio Vasconcellos, mas todo o processo licitatório foi "atropelado" por uma decisão do prefeito, que optou por um projeto da empresa Hidroservice, de Henry Macksoud, adaptado às pressas a partir dos desenhos de um viaduto rodoviário.


Daí a aparência pesada, paquidérmica, do Minhocão, que recebeu o nome do ex-presidente, general Arthur da Costa e Silva. Essa tamanha carga autoritária talvez explique sua maldição. E pode derrubá-lo um dia, como previu outro professor (e depois também prefeito), José Carlos de Figueiredo Ferraz, em uma reunião entre engenheiros, construtores e jornalistas (nós entre eles) em 1995.


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