oi5o
Texto e fotos: Uirá Lourenço
A rica cultura da bicicleta enche os olhos em Belém (Pará). Muita gente usa no dia a dia como meio de transporte. Parece que a Holanda é ali, mas com o calor bem amazônico. No início da manhã e no final de tarde algumas ciclofaixas têm congestionamento.
Congestionamento de bicicletas no início da manhã, na rua dos Mundurucus e na José Bonifácio.
Este ano a capital paraense vai sediar a Conferência Mundial do Clima, organizada pelas Nações Unidas (ONU), a COP-30. Gostaria que as autoridades aproveitassem para investir em infraestrutura para os ciclistas. Algumas ruas e avenidas têm ciclovia ou ciclofaixa, mas a maioria não tem qualquer espaço seguro.
Avenidas largas e arborizadas poderiam facilmente acomodar uma ciclofaixa (e faixa exclusiva para os ônibus), a exemplo da Gentil Bitencourt e da Magalhães Barata. Os ciclistas se espremem na lateral da pista e disputam espaço com carros e motos. Aliás, as motos (e o serviço de mototáxi) se proliferam, inclusive nas ciclofaixas, nas calçadas e na contramão. Muitas vezes o capacete não é usado pelo condutor e por ageiros (a moto carrega dois ou mais ageiros!).
Ciclistas espremidos entre os carros em diferentes avenidas de Belém.
As calçadas também merecem investimento do governo. As crateras estão por todo lado e é comum ver carros estacionados no lugar do pedestre. A falta de rampas e os desníveis entre a calçada e a pista também dificultam o percurso dos caminhantes.
Crateras em calçadas de Belém.
Não andei de ônibus dessa vez, mas é visível que o transporte coletivo precisa de melhorias. Vi que tem ‘Geladão’ circulando (ônibus com ar-condicionado), mas faltam faixas exclusivas e corredores de ônibus, além de abrigos e informações nos pontos de embarque. O projeto de BRT (sistema rápido por ônibus) parece ainda precário e incompleto, após tantos anos de promessas e obras.
Viadutos para Carros x Transporte Coletivo
Anúncio de novos viadutos na BR-316.
Infelizmente, quanto à mobilidade urbana, não dá para nutrir muita esperança. Pelas notícias que acompanhei, vem mais do mesmo: mais pistas para carros e viadutos, que tentam melhorar o escoamento da grande frota de automóveis. A notícia do G1 deste mês menciona a construção de cinco viadutos na região metropolitana, quatro já entregues. E uma nova via com extensão de 13 km, chamada de avenida Liberdade, vai cortar uma extensa área de floresta amazônica (reportagem da BBC sobre os impactos da nova via).
Espero que pelo menos em saneamento básico se observem mudanças significativas. Foram anunciados investimentos nessa área. Vale lembrar que 80% da população em Belém não conta com tratamento de esgoto!
Na verdade, os viadutos acabam sendo atalhos para novos congestionamentos, formados pelo contínuo aumento de carros em circulação. Ao ar pela rodovia de o a Belém (BR-316), a frase do governo destaca os novos viadutos.
A COP-30 bem que poderia servir para levar o VLT (Veículo Leve sobre Trilho) para Belém, a exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro nas Olimpíadas de 2016. A cidade merece um transporte limpo e moderno, que ajudaria a desafogar as vias congestionadas e resgataria o bonde elétrico que um dia circulou. Uma simulação feita por inteligência artificial em abril, divulgada pelo grupo Amazônia Urbana, mostra como ficaria a área do Ver-o-Peso com VLT, sem carros e com espaço para ciclistas.
Exemplo de modernidade em transporte. Fonte: Amazônia Urbana.
Quem sabe ainda dá tempo de rever as prioridades de investimento e algumas ciclofaixas se tornam realidade nas avenidas. Volto sempre que posso à terra natal, não só para degustar a maniçoba e o açaí, mas também para apreciar a rica cultura da bicicleta, que leva de tudo: crianças e adultos na garupa, lanche e muita carga. Belém é pai d’égua!
VÍDEO